Nesta semana saiu um artigo muito interessante na revista Carta Capital.
Fala sobre o programa espacial brasileiro e seus encontros e desencontros com o governo da Ucrânia com quem foi estabelecido um consorcio dando origem a empresa binacional Alcantara Cyclone Space para desenvolver um veículo lançador de satélites de peso médio. O artigo informa que foram liberados recursos pelo governo brasileiro para que o programa finalize sua etapa final nos capacitando a lançar satélites a partir da base de lançamento de foguetes de Alcantara no Maranhão.
Acontece que há críticos dentro do próprio governo, que preferiam ver os recursos aplicados no programa do Veículo Lançador de Satélites da Força Aérea, alegando que neste programa desenvolveríamos tecnologia integralmente nacional, o que não seria o caso no consórcio com a Ucrânia, já que esta detém tecnologia que recebeu nos tempos da ex União Soviética e, provavelmente não a repassariam para nós.
Esta situação que estava mal parada até há algumas semanas, veio a se precipitar com as recentes divulgações de que nosso governo estaria sendo espionado por sofisticados programas desenvolvidos potencias estrangeiras. Assim sendo, nossa situação de vulnerabilidade ficou patente e passou a exigir respostas. Dentre essas, parece que a aceleração do programa ACS é a alternativa mais eficaz e rápida para que o país tente recuperar o atraso no campo estratégico.
O aspecto mais emblemático do atraso é bem ilustrado pelo episódio da privatização da Embratel em que foram vendidos junto com os ativos da empresas, nossos satélites geoestacionários. Com isso perdeu-se o controle sobre o tráfego de informações por esses meio e ficamos dependentes de empresas estrangeiras para viabilizar as comunicações, inclusive de nossas forças armadas.
Leve-se em conta ainda que todas as nossas comunicações telefônicas, de dados e internet, de um modo ou de outro também precisam passar por canais de empresas estrangeiras, e temos aí as condições propícias para que o Brasil esteja extremamente vulnerável, e como tem mostrado os vazamentos de informações que tem vindo à baila recentemente, contar com garantias contratuais não parece ser o caminho mais seguro, uma vez que, ao que parece, prevalecerão sempre os interesses nacionais das grandes potências, em detrimento de quaisquer contratos, por mais bem elaborados que sejam.
Outra revista ainda, trás uma entrevista com um historiador que faz uma afirmação que não se deve esquecer. Diz ele que: "nenhum Estado respeita a lei internacional senão entre os que tem poder de retaliação." Há que se reconhecer aqui que nossos poderes retaliatórios são bastante limitados e foram muito enfraquecidos nas últimas décadas, razão porque urge que se faça um esforço para que, de algum modo, consigamos avanços em nossa defesa.
Curiosamente ainda há um site na internet que traz notícias sobre os últimos desenvolvimentos científicos, e dentre diversos artigos, um chamou minha atenção. Tratava exatamente sobre os métodos usados pelas agencias de segurança para conseguir acesso a informações privilegiadas e comunicações sigilosas.
O curioso nessa nota é que, ao contrário do que se pode pensar, as artimanhas de que se valem tais agencias são muito menos glamourosas do que se pinta na literatura ficcional, e bem mais brutas do que se supõe. Segundo informa o artigo, as agencias tendem a cooptar empresas nacionais e as faz fragilizar seus dispositivos de segurança e proteção de dados, bem como franquear acessos privilegiados nos sistemas para as agências, e o mais surpreendente, sugere que computadores vendidos por fabricantes do país poderiam já levar devidamente instalados programas espiões que automaticamente transfeririam informações sensíveis às agencias de segurança, facilitando muito o trabalho de 'bisbilhotagem'. Entretanto nem tudo está perdido, segundo se informa no artigo, um método bem simples para ao menos complicar a vida dos bisbilhoteiros de plantão é simplesmente usar softwares gratuitos. Tais software tem arquitetura aberta e são ajustados por programadores de todo o mundo e portanto não se encaixam bem nos requisitos das agencias de segurança que, ao que se diz, preferem atuar junto aos sistemas proprietários.
Bem, para encerrar, uma pequena reflexão. Sempre houve espionagem entre nações, militares, estratégicas, e principalmente comerciais e industriais. Sendo assim, por que haveria se ser diferente nos dias de hoje em que a tecnologia da informação possibilita meios insuspeitos de se conseguir praticamente quaisquer informações?