Quem nunca foi consultar um médico e encontrou um 'doutor' com olhar sério, um tanto solene e apressado e que logo pergunta o motivo de sua visita. O paciente então, um tanto intimidado, vai enumerando suas queixas, enquanto o médico já faz anotações em papel, ou em seu computador. O paciente nem bem termina de falar e o médico já tem preparada uma requisição de exames clínicos a serem feitos em algum laboratório conveniado, caso o paciente tenha algum convênio médico.
Se não tem, o calvário inicia muito antes, ao marcar consulta para geralmente meses adiante. Outros tantos meses vão se passar até que consiga vaga para realizar os exames pedidos . Esta situação é bastante comum no atendimento de saúde pelo país afora. Não raro o processo todo leva mais de um ano, enquanto isso a patologia vai progredindo.
Em nossa crônica midiática cotidiana somos bombardeados por más notícias vindas de todos os lados, realçando especialmente as ações e omissões do governo, Não há espaço para boas notícias. Mas, garimpando na internet encontrei o relato dos resultados obtidos em municípios do Estado do Piauí por alguns dos famosos médicos cubanos que celebravam um ano de mortalidade infantil zero. Algo que realmente merece celebração.
A nota enfatiza bastante o modo de atuação desses médicos em contraste com o quadro com que iniciei este meu comentário e a conclusão a que chego é que existe um vício de origem, um pecado original na formação de nossos médicos.
Nitidamente nossos doutores são formados para combaterem doenças, patologias. O paciente é apenas o mero portador desses males. A luta é entre o médico e a doença. A partir disso são solicitados inúmeros exames e receitados diversos remédios, geralmente os mais novos no combate ao suposto mal .
Por outro lado, conforme o relato que apreciei, os médicos cubanos parecem receber uma formação diferente. Seu foco não é a doença e sim o paciente. É lógico que eles também requisitam exames clínicos e receitam remédios, porém visando o fortalecimento do doente para que este venha a debelar seus males, coadjuvado pela medicação. Assim sua eficácia tende a ser maior, inclusive muitas vezes, vem o paciente a se recuperar sem nem mesmo precisar ser medicado. Basta-lhe apenas um pouco de atenção e apreço do doutor.
Os médicos cubanos, diferentemente dos nossos, parecem realmente encarar a prática médica como um sacerdócio, deixando o aspecto comercial e financeiro em segundo plano. Já os nossos médicos parecem adotar práticas capitalistas, onde a doença é fonte de receita para remunere o sistema.
A atenção do médico para com seu paciente se restringe, no mais das vezes, à receita de medicamentos, muitas vezes equivocados e que não raro acabam agravando a situação do doente. Outra prática malévola denunciada pelas estatísticas é o elevado número de partos por cesariana, apenas e tão somente porque essa modalidade de parto é melhor remunerada que o parto natural.
Mas o que realmente me deixa muito perturbado com relação à medicina aqui praticada são os casos escabrosos de trotes praticados por veteranos sobre os calouros, mesmo em nossas melhores faculdades de medicina. Diversos calouros já morreram em razão da violência e selvageria dos trotes aplicados pelos veteranos. Então eu me pergunto; com esse tipo de formação - ou antes seria deformação... O que produzem nossas faculdades de medicina, médicos ou monstros?