sábado, 28 de dezembro de 2013

Profissionais Confiáveis!

Quero crer que todos nós esperamos sempre encontrar profissionais competentes para nos atender nos mais variados serviços que precisamos - desde cabeleireiros ou mecânicos até, e principalmente, médicos e advogados (?). 

É de bom tom que tais profissionais ostentem seus diplomas ou certificados de conclusão de cursos que os capacite a bem prestar os serviços aos quais se propõe a fazer. Isto nos tranquiliza e transmite a impressão de que seremos bem servidos.

Entretanto, existe uma área da sociedade em que tal atributo, o de estar pelo menos familiarizado com o mister que vai se exercer, é soberbamente relevado, chegando às vezes até a ser desestimulado... Falo da política. Até onde sei não há nenhum curso de formação de políticos. Pelo que sei, nunca aprenderam nada sobre filosofia, ética e política. Ao que parece só precisam comprovar que sabem ler e escrever - fato bem explorado nas últimas eleições em que o famoso humorista 'Tiririca' eleito por expressiva avalanche de votos, quase não consegue entrar para a câmara justamente por haver dúvidas quanto a sua capacidade neste quesito. 

Fiquei então elucubrando por que não se promove cursos para os políticos que entram para a vida pública... Mas pensando um pouquinho mais a fundo, pensei que não são apenas os políticos que carecem de conhecimentos nos temas acima, e sim todos nós, enquanto eleitores. Ora, se é desejável que todos nós tenhamos tais conhecimentos, por que não se inclui uma disciplina que trate de ensinar isso a todos os alunos já no primeiro grau? 

Mas não, ninguém (até onde eu sei) cogita tal ideia. O que recentemente andou sendo muito discutido foi a inclusão de aulas de religião na grade de disciplinas do ensino primário. Aí naturalmente surgem os questionamentos - qual religião ensinar? Cristã? Islâmica? Hinduísmo, Bramanismo, Budismo? - Muitos políticos esboçaram sinais de cifrão em seus olhos imaginando dotar cada escola de um professor para cada uma das religiões enumeradas, e ainda subdividir o cristianismo entre o catolicismo, protestantismo, evangelismo e por aí vai... 

Para! Para! Ensinar religião nas escolas é uma aberração. Essa é questão para ser resolvida pela família, e ao que me consta, muitas igrejas ministram a seus fiéis aulas de religião para alicerçar sua fé nas famosas escolas dominicais. Em minha humilde opinião, isto bastaria para encerrar esta questão. 

Mas e o ensino de política, filosofia, ética... Tive a lembrança de que quando entrei na escola, no curso primário, nos idos do ano mil novecentos e sessenta e um, tinha aulas de português, matemática, ciências e Educação Moral e Cívica. Nesta última aprendíamos conceitos básicos sobre política como quem são prefeitos, vereadores, deputados, governadores e presidentes, o que eles fazem; sobre os três poderes e por aí vai. Tais conhecimentos ficaram marcados em minha mente de tal sorte que até hoje ainda os retenho e tem sido bastante úteis para que eu consiga pelo menos tentar entender como funciona a política neste nosso país - mas não está sendo fácil... Há tanta coisa que se faz, e que se diz, que atropela tão acintosamente o bom senso que mal dá para se acreditar e fica-se achando que, como ouvi um sábio dizer, "Em terra de cego, quem tem um olho... emigra". 

Reinaldo  

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Como é?

Finalmente entrávamos em mil novecentos e sessenta e oito. Foi um ano significativo para mim, não por causa a efervescência estudantil mundo afora, mas singelamente porque eu entrava na terceira série do ginasial e isso representava uma mudança de patamar, ao menos no estudo de história, já que passaríamos do estudo da história do Brasil para o estudo da história Universal. 

Logo em uma das primeiras aulas assaltou-me um certo desconforto quando a professora nos informou que Jesus Cristo havia nascido provavelmente entre os anos oito e quatro antes de cristo... 

Como é? 

Quer dizer que Cristo nasceu entre oito e quatro anos antes de... Cristo? 

Mas que coisa doida é essa? Bem, eu nunca fui de ir muito a fundo das questões e nem me passou pela cabeça perguntar a professora a razão de tal inconsistência, e tampouco me lembro que algum dos colegas de classe o tenha feito. Parece que moleques de treze a quatorze anos não tem muita coisa na cabeça mesmo... Passados poucos dias ninguém mais lembrava daquilo. 

Anos e anos depois, vi um documentário na televisão que deu em parte uma resposta a essa questão há muito esquecida. Um professor universitário, que colecionava moedas como hobby, tinha descoberto uma moeda emitida por Roma na região da Judeia por volta do século primeiro celebrando certa efemérida celeste que, segundo ele, referia-se à passagem do planeta Júpiter que estaria excepcionalmente brilhante devido a conjunções orbitais favoráveis. 

À época, tal evento era tido como premonitório, vaticinando mudanças significativos envolvendo reis, e pela posição do astro, sábios persas intuíram que anunciava o nascimento de um novo rei para a Judeia, e por isso acorreram para lá, a fim de constatar junto a Herodes como isto afetaria seu reinado.

Bem, já deu para perceber que esta história se confunde com a história bíblica sobre o nascimento de Cristo. Mas e a tal defasagem entre o suposto e o provável nascimento de Cristo? 

Para isso precisamos ter em mente que o calendário naquela época não era o que vale hoje, e sim o calendário Juliano, instituído por Júlio César e que continuaria vigente até que fosse reformado pelo Papa Gregório em mil quinhentos e oitenta e dois. Mas o calendário Juliano, ou romano, era muito complexo, tendo diversas formas de contar o tempo, quer seja a partir da fundação de Roma, ou conforme o período de governo dos cônsules, ou governantes de Roma. Fora isso, sofreu várias modificações ao longo do tempo o que tornou as datações dos períodos um tanto complexas. 

Foi um monge chamado Dionísio Exíguo (Dionísio Pequeno) que no ano de quinhentos e oitenta e dois, ao editar uma tabela para determinação das datas da Páscoa, criou o conceito do Ano do Senhor (AD - Anno Domini) sugerindo que o nascimento de Cristo fosse o divisor de águas da história. 

Mas sua elaboração deixou escapar dois problemas sérios; primeiro não foi estabelecido um ano zero, instituindo o ano um como o suposto ano de nascimento de Cristo. O segundo problema, mais grave ainda, foi ter cometido  erros na conversão das datas, resultando aí a diferença entre o suposto e o efetivo ano do nascimento de Cristo. Tal fato se confirma ao se constatar que a data da morte de Herodes o Grande ocorreu no ano quatro antes de Cristo - segundo a datação de Dionísio - sendo que Jesus teria nascido ainda durante o reinado de Herodes. 

Bem, confusões à parte, o fato é que nosso calendário atual herdou todas essas inconsistências e confusões e ao que parece continuará ainda vigente por bastante tempo; pelo menos enquanto persistir a sociedade que conhecemos, pois uma reforma de calendário visando a torná-lo mais racional implicaria em enormes dificuldades com reformulações de contratos comerciais, mercantis, financeiros e institucionais tanto de governos quanto de inúmeras empresas e empreendimentos tanto particulares quanto governamentais e de pessoas comuns, de tal sorte que isto seria praticamente impossível. 

Assim, os livros de história continuarão afirmando que Jesus Cristo teria nascido provavelmente entre os anos oito e quatro AC, e muitos estudantes haverão de continuar a  se perguntar "Como é?" ao ouvirem tal informação que parece contradizer o bom sendo. 

Reinaldo

Síndrome do Gravador de Fita em Rolo

Pois é... Mais um Natal que passou.
Quando eu era um garotinho, a época do Natal parecia mágica. Na tenra infância acreditava no Papai Noel que trazia presentes para as crianças que tinham sido boazinhas durante o ano que findava. Isso causava grande expectativa, e o ano parecia tão longo, custava tanto para passar...

A medida que a gente vai crescendo, que as ilusões vão se desfazendo, também parece que o tempo se acelera e os atos da vida se sucedem cada vez mais céleres... A primeira escola, o curso ginasial (é, sou do tempo em que tinha primário e ginásio), o colegial, a neura para entrar na universidade... Aí vem o primeiro amor, o casamento, filhos, e as ilusões natalinas transferidas para eles que também passam a empreender sua viagem pela vida. 

Agora que já sou até avô, os natais me parecem acontecer com uma frequência inquietante. Mal termina um ano e já surgem inúmeras despesas e impostos para pagar, contas e mais contas, manutenção de casa, do carro, de nós mesmos, via dentistas, médicos etc., etc... As pessoa se cumprimentam, enviam votos de um feliz Natal e próspero Ano Novo, dizem aflorar o espírito do Natal mas, a julgar pelo andar da sociedade como um todo, esse tal espírito natalino parece ser algo que dura pouco. Finda a ressaca de ano novo, retoma-se a roda viva da  vida e a ânsia  por um melhor salário, promoção, destaque social, e por aí vai. E o tal espírito natalino acaba soterrado sob tantas e tantas prioridades que elegemos na vida.

Não sei bem se é tanta correria ou se é o fato de já ter vivido tantos natais que me causa a nítida impressão de que o tempo passa mais rápido quanto mais se envelhece. É a isto que chamo de Síndrome do Gravador de Fita em Rolo. Quem já viu um desses funcionando há de concordar que, inicialmente o rolo carregado com a fita  gira bem devagar, como parecia andar o tempo em nossa infância. A medida que os anos vão passando, a vida parece ir mais célere, como o rolo do gravador que vai girando cada vez mais rápido até que um belo dia a fita termina e o carretel vazio para de girar... C'est la vie!

Reinaldo

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

SOBRE MAIORIDADE PENAL

Vira e mexe e lá vem a gritaria pedindo a diminuição da maioridade penal, especialmente quando algum menor comete algum crime bárbaro - o que infelizmente tem acontecido com exasperante frequência. Não sou advogado e pouco entendo de leis, mas isso não me impede de pensar e considerar o que vejo como solução, pelo menos para mim. 

Acho que o fulcro da questão da maioridade, a distinção entre criança e adulto - com a inevitável adolescência no meio do caminho - tem tudo a ver com a capacidade de procriar. Ouso a conjecturar que muitas vezes embora os adolescentes já tenham essa capacidade, ainda não conseguiram organizar suas vidas de modo a  manter uma família. Daí  o conceito de maioridade ficar um tanto flutuante, e para tanto a lei estabeleceu um patamar mínimo a partir do qual considerar o indivíduo adulto. Creio que tal limite há muito foi estabelecido aos dezoito anos de idade. 

Pois bem, com base em tal limite foi estabelecido o Estatuto da Criança e do Adolescente, limitando o jovem infrator a passar por medidas sócio educativas até  completar a idade mágica e aí sua ficha criminal é apagada, sendo ele reinserido na sociedade com ficha limpa.

No entanto eu acredito que casos de jovens violentos são exceções. Acho que para a grande maioria, o estatuto tem sido altamente positivo. Mas são justamente os casos escabrosos os que ganham as manchetes de jornais e revista e incitam o imaginário popular a considerar essa lei como uma aberração que poupa facínoras de responder pelas atrocidades que cometem, o que, diga-se de passagem, é até certo ponto compreensível. 

Aparecem então as reclamações e pedidos para reduzir a maioridade penal. O problema é, como conciliar a apenação dos malfeitores insidiosos que são poucos sem prejudicar a maioria dos jovens que tem se beneficiado da lei sem fazer alarde nem tampouco frequentar manchetes de jornais?

Minha humilde sugestão é a seguinte; encarando pelo lado do limiar que separa criança de adulto, ou seja a capacidade de procriar e manter família, o limite dos dezoito anos se não é o ideal é bastante satisfatório na maioria dos casos, especialmente no que se refere ao franqueamento de direitos e deveres aos jovens cidadãos. Mas e os jovens criminosos violentos? 

Se pensarmos de maneira inversa, ou seja, partindo do limiar para o jovem correto ser considerado cidadão pleno ocorrendo aos dezoito anos, que tal retroagir o limite de idade para os criminosos ao momento em que estes se apropriaram de prerrogativas que não lhes eram facultadas de maneira alguma, ou seja, a maioridade penal para tais indivíduos passaria a valer a partir do momento em que consumaram seus crimes bárbaros, como assassinato, tortura, estupro e outros que-tais. Minha ideia é que sejam assim considerados apenas crimes contra a vida, e minha justificativa para tanto é que, se o jovem tem discernimento para tirar ou atentar contra a vida de outrem, então ele ultrapassou um limiar que não poderia jamais ser ultrapassado e precisa responder por isso. 

E não me venham com justificativas atenuantes dizendo que são jovens, não sabem o que estão fazendo... Todos devem reconhecer o valor da vida e devem respeita-la e preservá-la. Desde a tenra infância todos devem aprender sobre o valor e a singularidade de se estar vivo... E tal aprendizado é urgente e necessário especialmente ante a cultura que se desenvolve com os vídeo-games em que se o jogador perde a vida, tudo bem, ele pode retornar gozando de outras vidas acumuladas durante a partida... Visão deturpada que precisa ser devidamente compreendida... No jogo você pode ter mais de uma vida, na vida real não (bem, há religiões e filosofias que pregam a reencarnação, mas até onde se sabe, não há comprovação incontestável disso). 

De fato a questão é controvertida e com certeza há inúmeros pontos de vista diversos do meu. No entanto fica aqui minha contribuição, ainda que seja considerada mais uma ideia de jerico.

Reinaldo